Qual o problema dos textos teóricos acadêmicos? Como alguém doutor em língua portuguesa pode não escrever bem? Sabe, aprendi muitas coisas no curso de Letras que nunca tinha parado pra pensar antes, e uma delas é a contextualização. Antes de chegar em determinado assunto, especialmente em um trabalho escrito, você precisar introduzir alguns conceitos que serão trabalhados ali. O problema de muitos textos teóricos utilizados na academia, porém, é a hipercontextualização, a meu ver.
Na disciplina de Linguística VI (a última, graças a Deus) estudamos a linguística aplicada. A professora passou um texto, e milagrosamente eu li. E foi aí que eu vi o terrível problema do texto e passei a pensar a respeito.
Como podem ver, o nome do texto é A validade do conceito de competência discursiva para o ensino de língua materna, de Marcos Baltar, que é professor universitário, aliás. O irônico (como expliquei aqui sobre ironia) é que na introdução ele diz "Procuraremos apresentar nesse trabalho o conceito de competência discursiva, desenvolvido a partir de uma discussão prévia do que é competência (...)" (grifo meu). Prévia significa preliminar, introdutória. Ele faz quase o contrário! O texto tem 17 páginas, contando com o resumo e introdução, mas somente nas três últimas é que ele entra no objetivo que dá título ao trabalho: competência discursiva no ensino de língua materna. Mas nisso ainda conto com as considerações finais! O tópico que de fato trata do assunto consiste em apenas cinco parágrafos. CINCO! De 17 páginas.
Ou seja, você passa a maior parte do tempo lendo sobre as diversas competências por várias linhas teóricas de forma demasiada aprofundada pra só nos 45 do segundo tempo, o autor falar algo de novo. Porque tudo o que ele passou páginas e páginas escrevendo é só uma reunião de teorias já existentes. O estudo "novo" (que é o que se espera de um artigo acadêmico) é um instante apenas.
Quando a professora perguntou na aula quais as nossas considerações sobre o texto, fui obrigada a falar: esse texto tá uma p* (entenda a qual meme me referi aqui). Não falei desse jeito, claro, mas fiz a mesma observação que faço agora. Ela concordou e falou que esse era um problema recorrente dos textos acadêmicos atuais: a demora na introdução, na contextualização, na reunião de teorias, deixando a análise de fato breve e rasa.
Aos universitários que me leem agora, por favor, não façam isso em seus artigos. Queremos ler algo novo, original, quais as suas observações a partir dos teóricos. Não se demore muito em conceitos, não encha linguiça, principalmente se você quer ser um bom escritor. Agora se for só pra conseguir uma nota em uma disciplina que você odeia e só quer se livrar, tudo bem.