Agora vamos falar das mudanças morfológicas, ou seja, mudanças no campo das classes gramaticais. Lembra disso? Verbo, adjetivo, substantivo.. pois é.
Substantivo que qualifica?
Por exemplo, um termo utilizado como um adjetivo em português é na verdade um substantivo na língua de origem. A palavra fashion em inglês se define em substantivo (noun) e consequentemente verbo (porque todo substantivo em inglês pode virar um verbo! Socorro). Entretanto, fashion é usado como adjetivo no português brasileiro ao qualificar uma pessoa como alguém que está na moda, que se veste bem, que possui estilo: “fulana é uma menina muito fashion”. Ou seja, é um substantivo em inglês que a gente usa como adjetivo.
TOP - O adjetivo que amamos odiar
Outro “adjetivo” que não poderia ficar de fora é uma das expressões mais utilizadas em todo o Brasil nos últimos anos mas que também tem recebido duras críticas quanto ao seu uso, configurando até uma espécie de preconceito lingüístico. “Top”, apesar de também ser um adjetivo em inglês que dá qualidade de algo bom, se difere do termo usado em português. Segundo a definição do Cambridge Dictionary Online, top é: “the best, most important, or most successful. Ex. He’s one of the country’s top athletes” (trad: o melhor, o mais importante, o mais bem sucedido. Ex: Ele é um dos maiores/melhores atletas do país). Como se pode ver, o adjetivo requer um complemento. Top singers, top songs, top movies, top videos. Ele define os melhores dentro de uma categoria. Porém, na fala brasileira, “top” é simplesmente um adjetivo que qualifica algo como muito bom, legal, etc. Ex.: A festa foi top. Esse vestido é top. Assim, apesar de não deslocar-se de classe gramatical, a mudança está mais dentro do campo morfológico do que no semântico.
Que bad isso :/
Outro caso que se instalou entre os usuários de redes sociais, em especial do Twitter, e atingiu o léxico do dia a dia dessas pessoas e outras mais, é a palavra bad, originalmente um adjetivo, cuja conotação é negativa, algo que não é ou não está bom/bem. MAS, bad virou uma espécie de substantivo, tomando o significado estar em uma situação sensitiva não agradável, estar em um momento ruim, depressivo (estar na bad). Temos, dessa maneira, uma ligação com o sentido original, porém em uma classe gramatical diferente.
Como eu conclui no artigo, esses são acréscimos e mudanças que enriquecem a língua e acontecem exatamente por ela estar viva, em movimento, e com a internet é ainda mais forte essa mixagem de culturas e idiomas que eu acho legal, não top.
Referências utilizadas no artigo, consequentemente no texto:
FARACO, Carlos Alberto (Org.). Estrangeirismos: guerras em torno da língua. 3ª ed. São Paulo: Parábola, 2001.
LACOSTE, Yves (Org.). A Geopolítica do Inglês. São Paulo: Parábola, 2005.