Barulhos: que me tiram o sono, que me fazem ter mil pensamentos. É um vulto? Uma sombra? Ouço uma batida aqui, uma pisada na telha ali. Sons e mais sons, de todas as alturas e intensidades. Juntam-se a estes, os barulhos externos da noite: o canto da coruja, um irritante grilo, folhas debatendo-se. Ou não, talvez fosse só imaginação. Era uma noite quente, parada, sem vento. Ar era só para respirar. Fechava os olhos para não ver o que parecia ser alguém a me espiar. Mas os arregalava quando ouvia um barulho muito próximo de mim. Atônita, atenta, assustada. Quando foi que deixei de ter medo do escuro? Nunca! Às vezes sentia um frio - como pode este frio se era uma noite quente?! - entrar por debaixo de meus lençóis, quase podia sentir uma presença no quarto, no escuro, no canto. Era apenas uma roupa enrolada? Não podia discernir! Qualquer movimento significava perigo. Diante de meus olhos pouco podia ver, mas mais há frente havia paredes - o corredor - pouco iluminadas pelo poste na rua. A luz amarelada e fraca atravessava suave pela janela, demonstrando por meio de sombras, a silhueta de qualquer um que passasse por ela. E estes desenhos sempre chamavam a atenção de meus olhos. Era impossível não voltar-me a direção para as figuras que surgiam. Na minha mente corria a ideia de uma sombra, de repente surgindo, de um homem, baixo. E que quando se aproximava da porta do meu quarto, eu podia senti-lo, parado ali. Ele não avançava de modo que eu não poderia vê-lo, mas apenas a sua sombra. A sua forma passava pela minha cabeça como um ser, meio homem meio monstro, sujo, peludo, com chifres e garras. Coisas de contos de fantasia - sempre os meus preferidos. Nesta mesma ideia, eu esperava na minha cama, encolhida e trêmula debaixo de minhas cobertas por qualquer movimento dele, por mais leve que fosse. Talvez ele tivesse olhos brancos e brilhantes, que se destacariam nas trevas, ou tivesse olhos vermelhos de sangue, o que transmitiria mais terror. De qualquer cor que fossem seus olhos, eu estaria esperando a qualquer momento que ele decidisse vir me atacar. Mas isso não acontecia, por era apenas fruto de minha imaginação, apenas mais um pensamento do que a noite - ou madrugada - tenebrosa poderia me trazer.
Esse dia inacreditável aconteceu. A postagem anterior me rendeu um episódio memorável que conto com orgulho e embaraço. Felizmente, a reação da nossa geração frente a qualquer acontecimento, seja bom ou ruim, é tirar foto ou fazer vídeo e colocar na internet. E aqui estão as recordações do dia em que eu derramei esmalte no meu olho: Bem crianças, eu estava pintando minha unha com Maçã do Amor, da Risqué e, enquanto pintava do dedo anelar direito, o pincel, de alguma forma, caiu pra trás da minha mão com a qual o segurava, bateu a ponta na mesa, e espirram gotas das cerdas que vieram diretamente para o meu pescoço e, óbvio, o meu olho. Eu corri desesperadamente em direção à pia da cozinha porque a do banheiro não está prestando, e gritei. Meu irmão dormia profundamente na sala, mas acordou perguntando "o que aconteceu?", eu falei, e ele "ah tá" e voltou a dormir. Que preocupação. Voltei pro quarto e fui pegar o esmalte, mas o vidro caiu pra dentro da baci...