No dia internacional da mulher eu não presenciei nada que me fizesse escrever um texto sobre a mulher, mas aconteceu algo bem curioso também.
Eu estava em um ônibus lotado, mas pelo menos com ar condicionado. Estava em pé, cansada depois de passar a tarde dando aula em pé, mas fazer o que né? Em determinado ponto do percuso, um casal de meia idade entrou pela porta do meio, e o motorista tentou fechar a porta bem rápido para impedir, mas a mulher prendeu o braço na porta e gritou: "c***lho! meu braço, p*rra!", assim o motorista teve de abrir a porta, e ela se soltou e ficou dentro do ônibus xingando junto com o homem. Ambos estavam notavelmente alterados, e bem sujos, carregando obras de artesanato feitas com latinhas, provavelmente para vender. Eles ficaram conversando bem alto, e na parada seguinte desceram do ônibus furiosos, o que fez o homem chutar a parte de vidro da porta do meio, quebrando-a. Todo mundo ficou "meu Deus!", o motorista desceu e os dois discutiram, mas depois o homem foi embora e o ônibus continuou seu caminho.
Despertaram então as conversas dentro do ônibus, e um cara começou a reclamar desses "vagabundos que destroem as coisas que são nossas, que pagamos com imposto, e depois as pessoas reclamam se pega um vagabundo desse e bate nele. É pra bater, é pra matar mesmo. Vagabundo bom é vagabundo morto!"
As pessoas não odeiam os bandidos que usam ternos e roubam milhões de reais, elas têm raiva desses pequenos e sujos que roubam nossos pertences, porque é uma sensação de perda mais imediata que a falta de investimento na educação, na saúde e segurança causadas pelos desvios das verbas públicas. Nós somos tão egoístas que só sentimos o que nos afeta particular e diretamente. Não conseguimos sentir a falta de um bom sistema de saúde com a mesma intensidade que sentimos falta do nosso celular que é roubado, assim é mais fácil odiar o culpado deste crime que o daquele. Não pensamos no povo brasileiro como um todo, só pensamos em nós mesmos.